Os animais, esses, deambulam confusos à espera de água que este ano nunca virá. Concentram-se em charcos, subjugados à tolerância dos impertinentes hipopótamos. Um desses charcos mesmo em frente ao alojamento, oferece um espectáculo em jeito de documentário galardoado de vida selvagem que se desenrola continuamente à nossa frente. Animais e pássaros incautos de todo o tipo tentam ganhar o seu lugar para beber a única água lamacenta que encontram, ignorando os crocodilos que apenas descansam ao seu lado por estarem de barriga cheia, os búfalos que competem com os hipopótamos no jogo da impaciência, a águia pesqueira que nem precisa de fazer pontaria, a leoa que desfila com as suas duas crias sob o olhar atento de toda a multidão e, alheios a todo este corrupio, os elefantes que inteligentemente decidem não brincar ou banharem-se na pouca água que lhes resta. Tudo isto sob um horizonte de mil cores pinceladas por um sol africano, prestes a desaparecer como que cansado depois de ter passado um dia cansativo a cozer esta terra.
Tivemos uma manhã super emocionante. Na mesma caminhada pelo mato, vimos um leopardo e um grupo de leões. O leopardo assim que percebeu que tinha sido avistado e que mudámos a nossa direção para nos aproximarmos, desceu da árvore e embrenhou-se pelo mato. Fez simplesmente o que os leopardos fazem melhor: desaparecer. Nem mesmo com os guias pisteiros locais bastante experientes lhe foi possível apanhar o rasto. Procurar um leopardo a pé no mato é das experiências mais emocionantes que se pode ter. Não há descarga de adrenalina que se lhe compare, na certeza de que estamos a ser observados e todos os nossos sentidos se despertam como nunca antes. Mas uma vez perdido o rasto de um leopardo, é difícil, senão impossível de voltar a encontrá-lo.
Mudámos a nossa rota e continuámos a nossa caminhada no Delta do Okavango em busca de outros animais. Lidero um grupo de 6 canadianos, 3 casais todos nos seus 60 anos de idade com um espírito jovial invejável que resolveram fazer o seu safari a África que vinham adiando há alguns anos. Passamos por zebras, girafas, kudus, impalas, facocheiros e todo o tipo de animais que posam para nós vaidosamente como que sabendo que apenas disparamos fotografias. Mas não nos deixam aproximar. Cada animal tem a sua distância de segurança e que se vai aprendendo apenas com experiência de muitas caminhadas no mato.
De volta a “casa”, o guia pisteiro vê o que mais ninguém consegue decifrar na erva alta a uns 50 metros de nós: leões. Tentamos aproximar-nos mais um pouco mas em vão. Tal como o leopardo, ensinados na mesma escola da selva, desaparecem. Mas desta vez não os tentamos seguir. É um grupo de cerca de 15 que os guias conhecem bem. Este lugar é aliás conhecido pela grande população de leões e não seria prudente fazê-lo nas condições em que estávamos. Voltamos para o alojamento onde nos serviram um almoço de fazer inveja a qualquer restaurante sofisticado de cidade e logo após, cada um escolhe o seu sítio predileto para uma sesta. Eu escolhi a cama de rede no deck sobre a água.