De bicicleta, talvez a forma mais bonita de viajar

Quando em 2009 comecei a viajar de bicicleta, um meio de transporte que até ali, só me ligava de casa à praia, olhei para mim a pensar o tempo que havia levado a descobrir que esta, era talvez a forma mais bonita de conhecer o mundo. Temos, é verdade, muito a descobrir quando o fazemos de mochila, de carro, de mota ou ainda mais de comboio ou a pé, mas nenhum destes nos traz a velocidade ideal.

De bicicleta, é o tempo certo, é a pedalada ao ritmo do bater do metrónomo e isso foi o que mais me seduziu. O tempo certo para observar, o tempo certo para comunicar – mesmo que ao longe – com quem vem no sentido contrário, o tempo certo para levantar a mão e dizer Adeus a quem nos acena com curiosidade. De parar quando nos apetece sem pensar no tempo que nos demoramos, um “Quero lá saber” acompanhado de um encolher de ombros, se não chegamos a tempo de ver o museu aberto ou o badalar na torre do relógio que é tão famosa, pois houve com toda a certeza um aproveitar do tempo que foi mais valioso do que o objectivo de chegar a um destino.

E foi com esta mesma ideia que parti para desenhar a primeira aventura em bicicleta da agência: um percurso que fosse acessível a todos, que nos permitisse observar, que nos permitisse parar e ver o que num roteiro não vem marcado, que nos deixasse falar com os outros – os que ainda não conhecemos – que nos deixasse cansados de prazer, que nos motivasse à descoberta, não tanto das cidades, dos monumentos, das paisagens, mas a descoberta de um novo modo de viajar. A ideia de começar por algo que todos, todos mesmo, fossem capazes, porque às vezes o maior obstáculo à nossa vontade, vem de não nos conhecermos o suficiente e pensarmos que algo, é inalcançável. E é, até ao momento em que é concretizado.

“Mais do que viajar de bicicleta, isto é uma jornada que serve – porque são muitos os momentos em que estaremos a sós connosco próprios – à reflexão e ao autoconhecimento.”

Porque no fundo, viajar de bicicleta nada tem a ver com…bicicletas. Tem a ver com pessoas, tem a ver com histórias, com aventuras e sobretudo com partilha. Tem a ver com etapas, sejam elas de casa para o trabalho, ou até ao fim do mundo. Tem a ver com sustentabilidade, com o respeito pelo outro, com aquilo que queremos para os nossos filhos, familiares, amigos ou animais. Tem a ver com uma chamada de atenção, com reivindicação, com ocupação de espaço, com ativismo. A bicicleta é descoberta, é conseguir o que nunca achámos ser capazes, é olhar para o nosso corpo e vê-lo transformar-se numa massa forte, poderosa, numa revelação desconhecida de nós próprios. Bicicleta é superação. É montanha que cansa e que no lado oposto, nos faz voar. Viajar de bicicleta tem a ver com sobrevivência de pequenos negócios, de pequenas comunidades, que descobrimos porque pedalamos, porque uma viagem não é só chegar de A a Z, mas um alfabeto por completo. Tem a ver com a sorte de nos perdermos e a felicidade de nos encontrarmos. Tem a ver com amizade, com não conseguir parar de sorrir e de ver tantos, mas tantos sorrirem de volta.

A bicicleta, afinal, tem muito pouco a ver com…bicicletas.

Artigo escrito pelo líder Rafael Polónia, autor da viagem de bicicleta ao Canal du Midi.

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