O Quénia pertence a um continente de origens, remoto e distante. Por enquanto, para o bem ou para o mal, muitas dos seus vastos e belos territórios rurais permanecem distantes do mundo globalizado.
O Quénia pertence a um continente de origens, remoto e distante. Por enquanto, para o bem ou para o mal, muitas dos seus vastos e belos territórios rurais permanecem distantes do mundo globalizado.
A cascata tem o nome de David Sheldrick, que a descobriu há muitos anos. A caminhada até esta maravilha leva cerca de duas horas a galgar por pastagens, arbustos e florestas. Segundo o guarda florestal, Shimba Hills tem o maior número de elefantes do país. É também o refúgio de búfalos e espécies raras como a palanca negra. Não vimos um boi. Em contrapartida, somos vítimas da bondade de uma impressionante cascata de 22 metros, com o nome do menino do texto de cima.
Com o som da água a cair, os sons dos animais escondidos na selva, desfruto do privilégio deste mundo e de o partilhar com a espécie mais rara de todas.
É de tuktuk que o dia começa. Diani tem uma estrada com relevos vários. Os safanões põem o cóccix a guinchar com estilo e, com os dias a passar, ganho calo nas ancas.
É para a praia que vamos. A areia branca mistura-se com o azul turquesa do Índico, contrasta com a muralha de palmeiras e a temperatura da água, está no ponto para cozer ovos benedict.
Diani é um dos principais destinos de praia no Quénia e isso mede-se com a quantidade de vezes somos abordardes para nos venderem qualquer coisa. Apesar de não ser o mais conveniente, entendo a necessidade quase de sobrevivência desta malta. Foram mais de dois anos sem suporte do Estado, num dos países mais pobres e mais corruptos do mundo.
Ah, praia, areia branca e tal. Caminhamos.
Cá fora o sol torra-nos a pinha, dentro de água o mar é uma sopa. É a lidar entre o quente e o quentinho que nos atiramos para o bote feito da madeira de mangrove. A ideia é subir o enigmático rio Congo, um dos mais profundos do mundo. Experimentei, não tinha pé, de facto!
Seguimos a boiar rio acima com o nosso barqueiro, à pesca do sunset. Aquele momento em que o som dos pássaros amplia nos nossos ouvidos e o dourado do sol a ir ilumina a nossa cara.
Mesmo com indícios fortes de tourist trap, deixamos a coisa rolar Pole Pole para nosso deleite e para o impacto social positivo que a nossa pequena contribuição pode dar. Dias bons estes!
Kaya Kinondo é uma floresta sagrada para o povo Digo. À medida que mergulhamos lá para dentro, vemos raízes emaranhadas e pedaços de coral antigo. Hamza, o nosso guia que virou bom amigo, aponta para várias plantas usadas na medicina tradicional. A dada altura, dá-nos o privilégio de transmitir os nossos medos a uma árvore antiga com um abraço.
Antes de entrar em Kaya Kinondo tens que tirar o boné, prometer não beijar ninguém dentro do bosque (esta parte foi mais difícil…), enrolar um kaniki preto na cintura e seguir o Hamza para onde ele nos quiser levar. Há 187 espécies de plantas para explorar. Uma ‘árvore de espinhas’, com propriedades para atacar o acne; uma palmeira que se acredita ter 1050 anos; e a bastante auto-explicativa ‘árvore do Viagra’. As lianas são um convite para uma sesta ou soltar o Tarzan que há em nós.
Muitas árvores têm cerca de 600 anos, o que corresponde à chegada dos primeiros Mijikenda de Singwaya, sua terra natal semi-lendária no sul da Somália. O corte de vegetação dentro do kaya é estritamente proibido – os visitantes não podem nem mesmo pegar um galho ou uma folha perdida da floresta.
As florestas preservadas não apenas facilitam o diálogo com os ancestrais, como também fornecem uma ligação direta com ecossistemas que foram destruídos noutros lugares. Kaya Kinondo contém cinco espécies endémicas e 140 espécies de árvores classificadas como ‘raras’.
O principal objetivo do kaya era abrigar as aldeias dos Mijikenda, localizadas numa grande clareira central.
Os kaya foram abandonados na década de 1940 e as correntes conservadoras do islamismo e do cristianismo denegriram a imagem dos Mijikenda, mas graças ao seu estatuto de Património Mundial da Unesco, os kaya que já levam 600 anos, com sorte, o vento contará histórias através dos seus galhos por muito mais tempo.
Se entrares numa matatu em Mombaça, bem podes contar para cima de duas horas de viagem por estradas abertas, paralelas à costa para chegar a Kilifi Creek, um estuário gigante de azul-burro-quando-foge quando se dilui no Oceano Índico. Ao atravessar a ponte Kilifi, damos conta das águas calmas abaixo e uma mão cheia de aldeias espalhadas ao longo das margens do riacho.
Kilifi é 10 vezes mais genuína que Diani. As comunidades funcionam de forma mais autónoma, não dependem do que vem do exterior. Das cenas importadas, do turista, etc. Nesse sentido, o contacto com as pessoas faz-se pole pole (sem pressas) nem presunção de negócio, tão autêntico como o mnazi que o Jonathan, o nosso amigo e driver, nos deu a provar numa aldeia Siriama, a tribo a quem ele pertence. Mnazi é o vinho de palma que eles fazem. Tem um sabor estranho, mas o segundo copo já me soube melhor (onde é que eu já vi isto…).
Como já deu para ver, Kilifi é para chillar. Mergulhamos de manhã numa baía de coral, à tarde à bolina de vela esteada num dhow com três piratas quenianos. Obrigado Samson!
Quando o dia chega ao fim, guardámos algumas energias para oferecer os pés à magia espontânea da bioluminescência. Não há muitos lugares no mundo para se ver este espetáculo. O plâncton bioluminescente é um fenómeno fascinante no qual o plâncton, que é ativado por movimento, acende brilhante enquanto remexes a água com os pés ou provocado por uma pequena onda. Sir Attenborough explica isto de uma forma exemplar em “Life that Glows”.
Quando as nuvens deixam, aparece em pano de fundo o Monte Kilimanjaro, o pico mais alto da África, o Parque Nacional Amboseli é um dos parques mais emblemáticos do Quénia. “Amboseli” vem de uma palavra Maasai que significa “pó salgado”, e é um dos melhores lugares da África para ver de perto as grandes manadas de elefantes.
Os habitats são muito variados, desde o Lago Amboseli, a pântanos com nascentes de enxofre, passando por savanas e florestas. A comunidade Maasai local vive em redor do parque e também se faz notar, sempre com um aceno e um sorriso largo, quando nos vê passar.
A imensidão da paisagem corresponde ao imaginário que África nos fez crescer na imaginação. É tudo verdade! É a terra mãe do Leopardo, da Chita, do Búfalo, Elefante, Girafa, Zebra, Leão, Crocodilo, Mangusto, Hyrax, Dikdik e mais de 600 espécies de avifauna que dão cor e vida a este lugar tão especial.