Viver o Pantanal, viver um sonho!

Pantanal vivia no meu imaginário desde criança. Dos vários documentários de vida selvagem que assistia com o meu avô, os que mais me impressionavam eram os episódios que se passavam no Brasil, nas florestas tropicais da Amazónia e no Pantanal, naqueles pântanos imensos e misteriosos. Foi nessa altura que comecei a sonhar com a visita àquelas paisagens ricas em biodiversidade.

Passadas duas décadas, estava eu a terminar a licenciatura em Ecoturismo, resolvi candidatar-me a um trabalho como guia/tradutor numa pousada no Pantanal. Fui aceite e parti, para concretizar mais um sonho. Desta vez, o sonho de criança que me acompanhara até aqui!

Como e quando visitar o Pantanal?

O Pantanal abrange uma área enorme e grande parte da mesma está alagada. Ou seja, o acesso a lugares mais afastados das cidades, e por consequência mais interessantes, é de difícil acesso. Muitas vezes, só é mesmo possível chegar de barco ou de avião. No meu caso, a primeira vez que pisei o solo brasileiro e mais concretamente aquele paraíso foi na época seca, e como tal tive a sorte de conseguir chegar de carro pois a deslocação de avião implicaria mais custos.

Vivia e trabalhava numa pousada, a Pousada Aguapé, a duas horas da aldeia mais próxima. A paisagem envolvente à pousada é de tirar o fôlego, sente-se uma pura conexão com a natureza, e seguimos o ritmo dela.

Quem quer visitar este lugar, terá que decidir logo desde o início, qual a época do ano para conhecer a região. Existem duas estações bem marcadas e bem diferentes, cada uma com características únicas. A estação da chuva de Novembro a Abril e a estação seca de Abril a Novembro. Não há dúvida que ambas são especiais.

Em termos de paisagem, a estação das chuvas é magnifica pois os rios estão bem cheios e a vegetação está verde como nunca. Podemos chegar a vários canais dos rios que durante a época da seca não são possíveis de aceder. Por outro lado, a estação seca é ideal para a observação de fauna local. Os animais caminham distâncias mais longas para poder encontrar alimento ou água facilitando o seu avistamento. Durante este período, podem observar-se as magníficas árvores ipê que durante apenas uma semana ou menos exibem as suas flores coloridas ou em tons rosa, amarelo, branco ou roxo. E o pôr-do-sol, uau, dos melhores que já assisti na minha vida!

Apesar de chamarmos a uma das temporadas a época seca, os rios nunca deixam de circular e são durante todo o ano peças chaves no ecossistema do Pantanal. A biodiversidade que existe dentro e nas margens dos rios é enorme. Durante os primeiros 6 meses que passei por aquelas terras, muito desse tempo foi passado a explorar os rios, “hotspots” de biodiversidade. Aventurei-me por aqueles rios enormes, alguns deles chegam a percorrer mais de mil quilómetros imagine-se, os quais desaguam no rio Paraguai, um rio enorme que percorre vários países como o Brasil, Paraguai, Bolívia e Argentina.

FAUNA E FLORA LOCAIS

Nas minhas explorações à região, fui quase sempre acompanhado pelo Fabiano, amigo, colega de trabalho e guia local nascido e criado no Pantanal, com mais de 20 anos de experiência como guia. Era com ele que me aventurava, principalmente no rio Aquidauana onde todos os dias me encontrava de frente com novas espécies tanto em termos de flora como de fauna. Tive o prazer de observar a enorme Ariranha ou Lontra gigante ou algumas espécies de primatas que nos observam pendurados nos ramos das árvores das margens do rio como o macaco Prego ou o macaco Bugio.

Presenciei também no seu habitat natural varias espécies de animais como o Tamanduá ou, mais conhecido em Portugal como Papa-Formigas gigante, a Capivara que é o maior roedor do mundo. Em particular a avifauna é impressionante, são centenas as espécies que se avistam no Pantanal, como a famosa Arara ou o Tucano com o seu longo bico. Alguns animais que são também a principal atração desta região são os Jacarés, as Anacondas, o Tuiuiú uma ave que mede quase 1,5 metros de altura e o temido Jaguar, o qual é bastante difícil de avistar. Quanto à flora, há também um mundo de espécies a explorar como é o caso das palmeiras de carandá. Os locais utilizam as suas folhas para criar diferentes peças de artesanato, como cestaria ou os famosos chapéus à cowboy. A árvore de Jenipapo ou em língua guarani “fruta que serve para pintar” era utilizada pelos indígenas para pintar os seus rostos e também utilizado para decorar peças de cerâmica.

CULTURA PANTANEIRA

O Pantanal não é só fauna e flora. Existe também uma cultura bem enraizada, a “Cultura Pantaneira”. Aprendi bastante sobre essa cultura, pois convivia com os meus colegas de trabalho, todos eles nascidos e criados em fazendas no meio do Pantanal. Não conhecem outro mundo sem ser este e levam com muito orgulho uma maneira de viver simples.

O peão ou “cowboy” é a figura principal deste povo.

A criação de gado é muito forte nesta região, levando os peões a moverem-se bastante de fazenda em fazenda, todas elas inseridas no Pantanal, nesse mesmo lugar onde coabitam com a abundante vida selvagem que respeitam e protegem.

Passam a maioria do tempo nos campos onde o calor pode chegar a ser quase insuportável, regressando a casa apenas ao pôr-do-sol. Ao final do dia, seguem sempre o seu ritual e preparam o seu famoso tereré (uma espécie de chá frio com erva mate) enquanto um dos peões toca no seu violão músicas tradicionais.

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